SILASAFEY

ALTAR-BLOG onde oferendas-texto são feitas às 7 direções



Vida




  Aqui, no heptante leste, eu invoco as forças da Vida. Não, não gosto de nomea-las, nem com nome de Deuses, entidades ou o que seja. A vida é a vida. E quando a invoco não o faço com palavras, eu apenas vivo, contemplando simultâneamente este viver.

@@@

   A primeira coisa que deixarei nesse altar é este link aqui:







Trata-se de meu blog original. Uma mesa farta de oferendas minhas ao viver, e no qual certamente deixarei também um link para este altar.


@@@




   Definitivamente é suspeito ver um pagão tuathano como eu citando um padre, principalmente em meu altar virtual. Só acho que não se deve generalizar as escolhas das pessoas quanto á religião. Existem cristãos carrascos e também existem os gente-boas, como não? Mas enfim, que essa citação deixe claro este fato: Ao contrário de nossos amigos monoteístas, nós politeístas aceitamos e nos divertimos com a idéia da diversidade religiosa. 

    Agora voltando ao Frei Beto. Não sei muito da sua história. Só sei que seus textos (publicados toda quinta-feira no jornal Estado de Minas, de onde tirei esse fragmento) costumam encerrar uma visão política afiada e esclarecida, além de uma boa dose de sabedoria (sim, meus caros, este padre é mesmo sábio). Pois que os seres vivos pensantes possam apreciar este sujeito, que parece sempre escrever em prol do mais vivo pensamento.


FREI BETTO
Oráculos da verdade


O filósofo alemão Emmanuel Kant não anda muito em moda. Sobretudo por ter adotado em suas obras uma linguagem hermética. Porém, num de seus brilhantes textos – O que é o Iluminismo? – sublinha um fenômeno que, na cultura televisual que hoje impera, se torna cada vez mais generalizado: as pessoas renunciam a pensar por si mesmas. Preferem se colocar sob proteção dos “oráculos da verdade”: a revista semanal, o telejornal, o patrão, o chefe, o pároco ou o pastor.


Esses os guardiões da verdade, que, bondosamente, velam para não nos permitir incorrer em equívocos. Graças a seus alertas sabemos que as mortes de terroristas nas prisões made in USA de Bagdá e Guantánamo são apenas acidentes de percurso comparadas à morte de um preso comum, disfarçado de político, num hospital de Cuba, em decorrência de prolongada greve de fome.


São eles que nos tornam palatáveis os bombardeios dos EUA no Iraque e no Afeganistão, dizimando aldeias com crianças e mulheres, e nos fazem encarar com horror a pretensão do Irã de fazer uso pacífico da energia nuclear, enquanto seu vizinho Israel ostenta a bomba atômica.


São eles que nos induzem a repudiar o MST em sua luta por reforma agrária, enquanto o latifúndio, em nome do agronegócio, invade a Amazônia, desmata a floresta e utiliza mão de obra escrava.


É isso que, na opinião de Kant, faz do público Hausvieh “gado doméstico”, arrebanhamento, de modo que todos aceitem, resignadamente, permanecer confinados no curral, cientes do risco de caminhar sozinhos.


Kant aponta uma lista de oráculos da verdade: o mau governante, o militar, o professor, o sacerdote etc. Todos clamam “não pensem!”, “obedeçam!”, “paguem!”, “creiam!”. O filósofo francês Dany-Robert Dufour sugere incluir o publicitário, que, hoje, ordena ao rebanho de consumidores: “Não pensem! Gastem!”.


Tocqueville, autor de Da democracia na América (1840), opina em seu famoso livro que o tipo de despotismo que as nações democráticas deveriam temer é exatamente sua redução a “um rebanho de animais tímidos e industriosos”, livres da “preocupação de pensar”.


O velho Marx, que anda em moda por ter previsto as crises cíclicas do capitalismo, assinalou que elas decorreriam da superprodução, o que de fato ocorreu em 1929. Mas não foi o que vimos em 2008, cujos reflexos perduram. A crise atual não derivou da maximização da exploração do trabalhador, e sim da maximização da exploração dos consumidores. “Consumo, logo existo”, eis o princípio da lógica pós-moderna.


Para transformar o mundo num grande mercado, as técnicas do marketing contaram com a valiosa contribuição de Edward Bernays, duplo sobrinho estadunidense de Freud. Anna, irmã do criador da psicanálise e mãe de Bernays, era casada com o irmão de Martha, mulher de Freud. Os livros deste foram publicados pelo sobrinho nos EUA. Já em 1923, em Crystallizing public opinion, Bernays argumenta que governos e anunciantes são capazes de “arregimentar a mente (do público) como os militares o fazem com o corpo”.


Como gado, o consumidor busca sua segurança na identificação com o rebanho, capaz de homogeneizar seu comportamento, criando padrões universais de hábitos de consumo por meio de uma propaganda libidinal que nele imprime a sensação de ter o desejo correspondido pela mercadoria adquirida. E quanto mais cedo se inicia esse adestramento ao consumismo, tanto maior a maximização do lucro. O ideal é cada criança com um televisor no próprio quarto.


Para se atingir esse objetivo, é preciso incrementar uma cultura do egoísmo como regra de vida. Não é por acaso que quase todas as peças publicitárias se baseiam na exacerbação de um dos sete pecados capitais. Todos eles, sem exceção, são tidos como virtudes nessa sociedade neoliberal corroída pelo afã consumista.


A inveja é estimulada no anúncio da família que tem um carro melhor que o de seu vizinho. A avareza é o mote das cadernetas de poupança. A cobiça inspira as peças publicitárias, do último modelo de telefone celular ao tênis de grife. O orgulho é sinal de sucesso dos executivos assegurados por planos de saúde eterna. A preguiça fica por conta das confortáveis sandálias que nos fazem relaxar ao sol.


A luxúria é marca registrada dos jovens esbeltos e das garotas esculturais que desfrutam vida saudável e feliz ao consumir bebidas, cigarros, roupas e cosméticos. Enfim, a gula envenena a alimentação infantil na forma de chocolates, refrigerantes e biscoitos, induzindo a crer que sabores são prenúncios de amores.


Na sociedade neoliberal, a liberdade se restringe à variedade de escolhas consumistas; a democracia, em votar nos que dispõem de recursos milionários para bancar a campanha eleitoral; a virtude, em pensar primeiro em si mesmo e encarar o semelhante como concorrente. Esta a verdade proclamada pelos oráculos do sistema.


Frei Betto é escritor, autor de Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros.


Comentário: Não parafraseiem apenas, escrevam suas frases! Não se limitem a opinião de autoridades (sejam quais forem), produza também a sua opinião! Não se esconda por trás de livros e reportagens, ou mesmo ideologias, profissões. Aprendamos a deixar a alma á mostra! Bunchur!


@@@




Nenhum comentário:

Postar um comentário